Artigo retirado da edição atual da revista Crítica do Direito (Número 1, Volume 35). Disponível no link: http://www.criticadodireito.com.br/todas-as-edicoes/numero-1-volume-35/em-defesa-do-marxismo-e-da-experiencia-socialista
“Que partido de
oposição não foi acusado de comunista por seus adversários no poder? Que
partido de oposição, por sua vez, não lançou a seus adversários de direita ou
de esquerda a pecha infamante de comunista?”
Marx e Engels
“A doutrina de Marx
suscita em todo o mundo civilizado a maior hostilidade e o maior ódio de toda a
ciência burguesa (tanto a oficial como a liberal), que vê no marxismo uma
espécie de ‘seita perniciosa’. E não se pode esperar outra atitude, pois, numa
sociedade baseada na luta de classes não pode haver ciência social
‘imparcial’.”
Lênin
“Sempre estivemos
contra a crítica inadequada a Stalin, feita a partir de uma posição falsa e com
métodos errôneos.”
Partido Comunista da
China
O
pensamento social dominante é condicionado pelas forças dominantes na
sociedade. A história jamais será imparcial, pois precisa ser contada por
alguém. Desde que a sociedade se dividiu entre opressores e oprimidos, a
história predominante é a história dos opressores.
Os homens sempre
foram em política vítimas ingênuas do engano dos outros e do próprio e
continuarão a sê-lo enquanto não aprenderem a descobrir por trás de todas as
frases, declarações e promessas morais, religiosas, políticas e sociais, os
interesses de uma ou de outra classe (LENINE, 1984a, p. 94).
Em
1992, um certo funcionário do Departamento de Estado dos Estados Unidos lançava
aos ventos a tese do “fim da história”, pressupondo, com estratagemas dignos de
Schopenhauer[1], a derrota eterna do
socialismo e a vitória eterna do capitalismo. Em outras palavras: critiquemos o
socialismo, mas não critiquemos o capitalismo, porque, por problemas que
existam, não há nada a fazer contra ele.
Assim,
a história utiliza de premissas falsas e da manipulação semântica, pressupondo
na expressão “socialismo real” que as experiências socialistas no mundo foram
negativas e que não é possível aplicar na prática a teoria marxista. Isso ficou
impregnado de tal maneira que até críticos do capitalismo admitem essa
terminologia, abrindo os flancos para a falsa proclamação de vitória do
capitalismo. A manipulação semântica vai mais longe, quando os ideólogos do
capitalismo, no pós II Guerra Mundial, aproveitaram-se da derrota do
nazi-fascismo para cunhar o termo totalitarismo, que correspondia a tudo que
não se combinasse com a concepção idealizada de democracia liberal. Assim,
lançava-se um estratagema de alternativa forçada: como era óbvio que ninguém
ousaria defender o monstro do totalitarismo, restava apenas comprar a ideia de
democracia liberal. De um lado, o modelo de “democracia” estadunidense; do
outro, os “totalitarismos” do nazismo, socialismo, comunismo, etc. Essa máquina
de manipulação anti-histórica consegue igualar as experiências socialistas ao
nazismo.
A
história do capitalismo é também a história da luta pela sua superação.
Irrompendo contra as oposições utópicas e moralistas aos efeitos do capitalismo
sobre os trabalhadores, Marx e Engels apontam o caminho científico para a
transformação.
Marx determinou a
tarefa essencial da táctica do proletariado em rigorosa conformidade com todas
as premissas da sua concepção materialista-dialéctica do mundo. Só o
conhecimento objectivo do conjunto de relações de todas as classes, sem
excepção, de uma dada sociedade e, por conseguinte, o conhecimento do grau
objectivo de desenvolvimento desta sociedade e das relações entre ela e outras
sociedades. (LENINE, 1984b, p. 204)
A
luta de posições, muitas vezes antagônicas, sempre foi parte dos processos de
organização revolucionária. A Associação Internacional dos Trabalhadores, onde
estavam Marx e Engels, se deu em meio a confrontos com os anarquistas. A Comuna
de Paris, em 1871, é um marco que confirma as posições marxistas. Depois, abre-se
a luta de Lênin contra o reformismo e o oportunismo que passaram a dominar a II
Internacional. A Revolução Russa demonstra a justeza das posições de Lênin
sobre os reformistas e oportunistas da II Internacional.
A
construção da experiência revolucionária na Rússia não se deu sem duras contradições.
Em vida, Stalin enfrentou várias tentativas de eliminação e traições dentro do
Partido Comunista da União Soviética. Com sua morte, em 1953, Kruschov assume o
caminho para a restauração capitalista na Rússia, abrindo uma luta com o
Partido Comunista da China. Até 1976, a justeza das posições do PCCh é
confirmada pela experiência única da Revolução Cultural, levando adiante os
princípios do marxismo-leninismo. A partir de 1976, com a morte de Mao Tsetung,
abre-se o caminho para a restauração do capitalismo na China. Por outro lado,
surge o marxismo-leninismo-maoísmo a partir do chamado Pensamento Mao Tsetung.
Dois
conceitos chaves nessas lutas são oportunismo e revisionismo. Lênin apontava
que, nas condições do capitalismo monopolista, “um pequeno círculo da
burocracia operária, da aristocracia operária e de companheiros de jornada
pequeno-burgueses podem receber algumas migalhas dos grandes lucros da
burguesia” (LENINE, 1984c, p. 283). Trata-se de uma forma desenvolvida pelo
capitalismo de destruir seus inimigos por dentro, o que se revelou mais eficaz
que travar apenas a confrontação direta. O conteúdo do oportunismo, que passa a
ser uma linha de atuação nos movimentos operários é “a colaboração das classes,
a renúncia à ditadura do proletariado, a renúncia às ações revolucionárias, o
reconhecimento sem reservas da legalidade burguesa, a falta de confiança no
proletariado, a confiança na burguesia” (LENINE, 1984c, p. 283).
Além
de afirmar que a luta de posições é inerente aos movimentos revolucionários – o
que decorre da universalidade da contradição como lei fundamental do
materialismo histórico-dialético – demonstramos que a única forma de resolver
qual é a posição correta é a sua aplicação na prática. Isso reafirma Mao
Tsetung (1979a, p. 69):
É somente chegando à
prática social (dentro do processo da produção material, da luta de classes,
das experiências científicas), aos resultados que esperavam, que os homens
recebem a confirmação da verdade de seus conhecimentos.
Em
seguida:
O marxismo-leninismo
é reconhecido como verdade não somente porque essa doutrina foi cientificamente
elaborada por Marx, Engels, Lênin e Stálin, mas porque foi confirmada pela
prática ulterior da luta revolucionária de classe e da luta revolucionária pela
libertação da nação. (1979a, p. 79)
Uma
tal experiência histórica, em tempos de imperialismo, teve um poder incrível de
influenciar as pessoas dos países inseridos na troca capitalista mundial.
Especialmente após a II Guerra Mundial, pintar o socialismo como algo muito
ruim era tarefa essencial para o capitalismo na batalha ideológica. Uma forma
de fazê-lo, e que é feita constantemente até hoje, é atacar a figura pessoal
dos dirigentes. Isso só pode ser feito numa concepção de história que dissocia
os indivíduos do contexto social, somada à manipulação psicológica, criando
monstros sem associar com a posição de classe que cada um ocupava e a quem cada
um servia. Cabe trazer a passagem de Stalin (1938) sobre o idealismo histórico:
[...] a ciência
histórica, se pretende ser uma verdadeira ciência, não deve continuar reduzindo
a história do desenvolvimento social aos atos dos reis e dos chefes militares,
aos atos dos "conquistadores" e "avassaladores" de Estados,
mas deve ocupar-se, antes de tudo, da história dos produtores dos bens
materiais, da história das massas trabalhadoras, da história dos povos.
Lênin, Stalin e Mao Tsetung são os mais
demonizados, exibidos com os mais excêntricos hábitos capitalistas capazes de
causar antipatia a qualquer pessoa! Não é preciso falar dos estudos sobre a
capacidade de formatação ideológica da indústria cultural capitalista, nem citar
filmes e livros em que a experiência revolucionária de bilhões de pessoas é
reduzida às maluquices e excentricidades atribuídas aos dirigentes.
Somava-se
a isso a particular consciência dos ideólogos capitalistas de que é mais eficaz
destruir a revolução por dentro do que atacando de fora. Três anos depois da
morte de Stalin, em 1956, Kruschov apresentou, no famoso XX Congresso do PCUS,
um “relatório secreto” denunciando uma série de crimes supostamente praticados
por Stalin e o que chamava de culto à personalidade. O texto relatório sequer
fora apresentado. Mesmo assim, causou impacto nas direções comunistas, nos
militantes e nos intelectuais em todo o mundo. Grande parte das direções não
estava habituada ao método correto de aprofundar e resolver as divergências e
lutas internas. Muitos – inclusive Kruschov, que era um pérfido puxa-saco de
Stalin quando este era vivo – que sustentavam uma crença na figura de Stalin
sem profunda convicção e fundamento, passaram da mesma maneira a odiá-lo. Isso
abriu o caminho para a negação, não de Stalin, mas dos princípios do comunismo.
Exemplo claro se passou no Brasil com a debandada reformista de Prestes e seus
seguidores.
Intelectuais
proeminentes, especialmente na Europa, apartados da prática revolucionária e
recebendo informações distorcidas, acolheram prontamente essa manipulação, como
o demonstra essa fala do italiano Umberto Cerroni (apud CALDAS, 2006, p. 25):
O XX Congresso acolho
com entusiasmo, com um entusiasmo que em parte se esmaga e se contradiz com a
dor autêntica e muito humana de tantos militantes que se sentem maculados de
sangue pelo realatório secreto.
Tudo
isso não levou a nada mais que à negação dos princípios da ação revolucionária
e dos métodos de direção comunista. Serviu para formar um consenso de refutação
da aplicação prática do marxismo-leninismo, e lançar as várias vertentes de um
“socialismo democrático”, que nada mais significa que a defesa dos princípios
da democracia liberal (separação de poderes, eleições livres, cretinismo
parlamentar, etc.) sob rótulos de socialismo.
Um
outro consenso formou-se sobre a produção e reprodução de um conceito – o
“stalinismo”. Falamos em “produção” de um conceito pelos seus próprios
críticos, porque os que defenderam ou defendem corretamente a figura de Stalin
jamais utilizaram esse termo. Ele é usado, muitas vezes, não para refutar
Stalin, mas sim os princípios do comunismo. Em política vulgar é usado para
nomear a prática de qualquer político que impõe sua vontade individual sem
discussão. Na academia em Ciências Humanas, ser contra o “stalinismo” acabou se
tornando um senso comum e pressuposto indispensável para quem quiser se manter
numa posição confortável e estável, sem ser duramente criticado, e desde que
não ligue muito para a reflexão sobre suas convicções e princípios.
E
o que queremos dizer por “defender corretamente a figura de Stalin”? Que não
estamos buscando uma posição confortável sem princípios. Que não podemos seguir
até hoje dando corda à manipulação que foi o “relatório secreto” de Kruschov.
Que não podemos seguir a linha de demonização individual dos dirigentes
socialistas, nem tampouco sua glorificação individual sem convicção histórica e
científica. Que a maior parte das críticas (ataques) a Stalin não fazem avançar
a crítica transformadora da sociedade e levam inevitavelmente à negação do
marxismo e da experiência socialista. Que não refutamos a experiência única que
viveram bilhões de pessoas ao longo do século XX, na construção do socialismo.
Após
o “relatório secreto” e seus impactos, abriu-se a luta entre o PCUS e o PCCh,
expressa em documentos importantíssimos para a avaliação da experiência
socialista – e ainda pouco conhecidos no Brasil. Do lado chinês, trata-se da
carta de 25 pontos intitulada Proposição
acerca da linha geral do Movimento Comunista Internacional, de 14 de junho
de 1963, e de nove comentários temáticos sobre a Carta Aberta do PCUS, de 14 de julho de 1963. Esses documentos
foram publicados pela primeira vez no Brasil (não por acaso) apenas em 2003,
sob o título A Carta Chinesa – a grande
batalha ideológica que o Brasil não viu.
Um
dos nove comentários é Sobre o problema
de Stalin. Ali fica colocada a posição do PCCh:
O Partido Comunista
da China sempre considerou que é necessário analisar de maneira cabal, objetiva
e científica os méritos e erros de Stalin, empregando o método do materialismo
histórico e apresentando a história tal como é, e que não se deve empregar o
método do idealismo histórico, tergiversar e falsificar arbitrariamente a
história, nem negar Stalin de maneira subjetiva, grosseira e total. (PCCH,
2003a, p. 143)
Quando Kruschov
tergiversa a história e nega por completo Stalin, é natural que tenhamos o
ineludível dever, pelo bem dos interesses do movimento comunista internacional,
de sair em defesa de Stalin. (PCCH, 2003a, p. 146)
No
tumulto histórico causado pelo XX Congresso do PCUS, o PCCh era o que mais
possuía condições para avaliar a experiência da Rússia sob Stalin e prosseguir
no caminho do socialismo. Isso porque, sob a direção de Mao Tsetung, o PCCh,
desde a sua fundação na década de 20, vinha se provando nos métodos de direção
e no tratamento correto das contradições. Em outras palavras, eles puderam,
como ninguém antes, aplicar os preceitos da filosofia marxista – o materialismo
histórico e dialético – a todos os campos da atividade humana, inclusive aos
métodos de direção. Essa consciência da filosofia na prática já havia sido demonstrada em dois textos de 1937: Sobre a prática e Sobre a contradição, cuja leitura, um tanto negligenciada e pouco
acessível na atualidade, é essencial para qualquer pessoa que queira conhecer
honestamente o marxismo – fugindo das falsificações, superficialidades e
preconceitos carregados pelos mais eminentes e graduados professores da
academia.
Esse
caminho aponta e demonstra cientificamente que a contradição é inerente e
interna a todos os fenômenos (todo fenômeno traz em si o seu oposto); que uma
realidade possui várias contradições e é preciso distinguir, nelas, a
contradição principal que condiciona todas as outras, e distinguir, em cada
contradição, o aspecto principal ou dominante; que um aspecto dominado da
contradição pode se tornar o seu oposto – o dominante – gerando uma realidade
diferente da anterior; que, embora a contradição esteja em tudo, nem todas as
contradições são antagônicas.
A
partir do fato de que a contradição está em tudo, Mao Tsetung demonstrava que a
luta entre capitalismo e socialismo não se dava apenas no amplo espectro da
sociedade, mas inclusive no seio da direção comunista. Nenhuma direção – nem
mesmo a do próprio PCCh – estava imune ao oportunismo, ao revisionismo e à
restauração capitalista. E ainda, que,
mesmo onde o Partido Comunista tivesse tomado o poder e iniciado a construção
do socialismo, o capitalismo continuava presente, e era preciso lutar contra
ele até o comunismo:
A sociedade
socialista abarca um período histórico muito longo. Nesta sociedade ainda
existem classes, a luta de classes e a luta entre o caminho do socialismo e o
do capitalismo. A revolução socialista realizada só na frente econômica (na
propriedade sobre os meios de produção) não é suficiente nem sólida. É
necessária, ademais, uma revolução socialista completa nas frentes política e
ideológica. (PCCH, 2003b, p. 438).
A
compreensão de que nem todas as contradições são antagônicas leva, no âmbito da
luta de classes, à necessidade de distinguir as “contradições entre nós e o
inimigo” e as “contradições no seio do povo”. Cada uma impõe um método correto
para resolvê-las.
As contradições entre
nós e o inimigo e as contradições no seio do povo, por serem de natureza
diferente, requerem métodos distintos para resolvê-las. Em poucas palavras, nas
primeiras é questão de traçar uma clara distinção entre nós e o inimigo,
enquanto que nas segundas se trata de uma questão de estabelecer uma distinção
precisa entre o correto e o errôneo (TSETUNG, 1999, p. 57).
Negando
a ideia abstrata de democracia, demonstrava-se que todo Estado expressa a
democracia apenas entre aqueles que exercem o poder, e ditadura contra seus
inimigos de classe. Por mais que fale em democracia no sentido abstrato,
qualquer Estado capitalista é de fato uma ditadura contra os trabalhadores. Já
a ditadura democrática popular na China se fundamentava numa democracia para o
povo e ditadura para as classes que pretendiam restaurar o capitalismo. A primeira
função dessa ditadura era
[...] reprimir,
dentro do país, as classes e elementos reacionários, os exploradores que opõem
resistência à revolução socialista, reprimir os que sabotam a edificação
socialista, isto é, resolver as contradições entre nós e o inimigo dentro do
país. (TSETUNG, 1999, p. 57)
Entre
o povo e dentro das direções partidárias, havia dois tipos de desvios na
maneira correta de tratar a contradição com o inimigo: a maneira de pensar
direitista não faz essa distinção e trata os inimigos como amigos; já os que
pensam de maneira esquerdista “exageram o alcance das contradições entre nós e
o inimigo até tal grau que tomam certas contradições no seio do povo por
contradições entre nós e o inimigo e consideram contra-revolucionárias a pessoas
que na realidade não o são” (TSETUNG, 1999, p. 65).
As
contradições no seio do povo não podem ser resolvidas apenas com medidas
administrativas e coercitivas. O elemento fundamental é o trabalho educativo e
persuasivo.
Ao advogar pela
liberdade dirigida e pela democracia guiada pelo centralismo, não queremos
dizer de modo algum que, no seio do povo, devam resolver-se empregando medidas
coercitivas as questões ideológicas e os problemas relativos à distinção entre
o certo e o errado (TSETUNG, 1999, p. 59)
Qual
seria o método correto para resolver essas contradições? “Partir do desejo de
unidade, resolver as contradições através da crítica ou luta e alcançar assim
uma nova unidade sobre uma nova base” (1999, p. 59).
Voltando
a Stalin, o PCCh analisa, entre outros erros:
Na luta tanto dentro como
fora do Partido, às vezes e em alguns problemas, Stalin confundiu duas
categorias de contradições de distinto caráter, isto é, contradições entre os
inimigos e nós e contradições no seio do povo, e confundiu os métodos
diferentes para resolvê-las. (PCCH, 2003a, p. 144).
Não
obstante, e ainda que os comunistas chineses tenham sentido na própria carne as
consequências de alguns erros de Stalin, seu método nunca foi de atacar sua
direção, mas sim seus erros, buscando corrigir-lhes na prática. “Para todos os
comunistas, as experiências históricas tanto positivas como negativas são
benéficas, sempre que sejam acertadamente resumidas de acordo com a realidade
histórica e não tergiversando-a” (2003a, p. 145). E ainda, “os méritos e erros
na vida de Stalin são uma realidade objetiva histórica. Comparados seus méritos
e seus erros, pesam mais os primeiros que os últimos” (2003a, p. 145).
Demonstra
o PCCh que Stalin conduziu o povo soviético na linha da industrialização
socialista e da coletivização da agricultura; na grande vitória da guerra
antifascista (dizemos: representada, aliás, pela correta estratégia e pelo
heroísmo inapagável da Batalha de Stalingrado); na luta contra o oportunismo e
a sustentação do marxismo-leninismo, que impulsionou a construção, em todo o
mundo, de partidos comunistas armados com a ciência e o método luta eficaz contra o capitalismo;
no avanço da obra teórica marxista; numa política externa correspondente com o
internacionalismo proletário e com grande ajuda às lutas dos povos de todo o
mundo.
Com
a análise correta da realidade, o conhecimento científico da contradição
aplicado aos métodos de direção, e a compreensão de que a construção do
socialismo não se dá apenas no plano
econômico, mas sobretudo nas frentes política e ideológica, o PCCh lançou, em
1966, uma experiência inédita na humanidade: a Grande Revolução Cultural
Proletária, como um processo de educação e empoderamento das massas voltado a
colocar em questão os próprios dirigentes, revolucionando e reavivando o
caminho do socialismo e combatendo as tendências feudais e burguesas que
permaneciam mesmo após vários anos da revolução de 1949. A Revolução Cultural
perdura até 1976, quando, após a morte de Mao Tsetung, um golpe de Estado
coloca Deng Xiaoping no poder e encarcera a direção maoísta.
Essa
dura condição da luta pelo socialismo já estava adequadamente colocada em 1963.
Pedimos licença para a longa transcrição, já que qualquer redução retiraria seu
sentido integral:
A luta de classes, a
luta pela produção e a experimentação científica são três grandes movimentos
revolucionários para cosntruir um poderoso país socialista. Estes movimentos
constituem uma real garantia de que os comunistas se verão livres do burocratismo
e estarão imunes contra o revisionismo e o dogmatismo, e permanecerão sempre
invencíveis. São uma garantia segura de que o proletariado será capaz de
unir-se com as amplas massas trabalhadoras e praticar uma ditadura democrática.
Se, na ausência destes movimentos, estivesse permitido que surgissem os
latifundiários, camponeses ricos, contra-revolucionários, elementos maus e
ogros de todo tipo, enquanto nossos quadros fechassem os olhos a tudo isto e em
muitos casos inclusive não distinguissem entre os inimigos e nós, mas sim
colaborassem com eles e ficassem corrompidos e desmoralizados; se com isso
nossos quadros fossem arrastados ao campo inimigo ou o inimigo lograsse
colar-se em nossas fileiras, e se muitos de nossos operários, camponeses e
intelectuais fossem deixados indefesos perante as táticas brandas e as táticas
duras do inimigo, então não seria necessário muito tempo, talvez só alguns anos
ou uma década, ou várias décadas quando muito, para que ocorresse
inevitavelmente uma restauração
contra-revolucionária em escala nacional, o partido marxista-leninista
se transformasse em partido revisionista ou partido fascista, e toda a China
mudasse de cor (TSETUNG, apud CARVALHO, 2006, p. 93)
Afinal,
foi exatamente o que aconteceu, 13 anos depois, na China, representando um
problema muito mais amplo, o fim da primeira grande onda da experiência
socialista. Não que Mao Tsetung fosse um visionário, apenas estava munido da
mais avançada aplicação do método materialista dialético, podendo visualizar o
aspecto oposto da contradição. De maneira nenhuma, porém, devemos fazer coro ao
“fim da história”. Afinal, já estava claro, também, que a revolução é um
processo longo de derrotas e vitórias. Em 1938, Stalin mostrava que a revolução
e o socialismo não são fruto da vontade arbitrária de certas pessoas ou grupos,
mas do próprio desenvolvimento histórico das sociedades capitalistas.
Ora, se o mundo se
acha em incessante movimento e desenvolvimento e se a lei desse desenvolvimento
é a extinção do velho e o fortalecimento do novo, é evidente que já não pode
haver nenhum regime social "irremovível", nem podem existir os
"princípios eternos" da propriedade privada e da exploração, nem as
"idéias eternas" de submissão dos camponeses aos latifundiários e dos
operários aos capitalistas.
Os
erros cometidos nas experiências socialistas do século XX (não nos referimos
aos erros anunciados – e criados – pela versão dominante na história), não são
capazes de abalar essa certeza histórica e científica, e muito menos de
permitir que se declare a vitória do capitalismo.
É necessário um
período muito longo para resolver o problema de “quem vencerá a quem”: o
socialismo ou o capitalismo nas frentes política e ideológica. Para conseguir o
êxito não bastam uns decênios, se necessitarão de cem a centenas de anos.
Quanto ao tempo, mais vale preparar-se para um período maior que um menor;
quanto ao trabalho, mais vale considerar preferentemente a tarefa como difícil
do que como fácil. Pensar e atuar desta maneira é mais proveitoso e menos prejudicial.
(PCCH, 2003b, p. 438)
Quão diferente é a
lógica dos imperialistas da lógica do povo! Provocar distúrbios, fracassar,
voltar a provocar distúrbios, fracassar de novo... até à sua ruína – tal é a
lógica dos imperialistas e de todos os reacionários do mundo perante a causa do
povo, e eles jamais marcharão contra tal lógica. [...] Lutar, fracassar, lutar
de novo, fracassar de novo, lutar outra vez... até à sua vitória, eis a lógica
do povo, e este também jamais marchará contra tal lógica. (TSETUNG, 1979b, p.
665).
Marx,
Engels, Lênin, Stalin e Mao Tsetung estão tão vivos na atualidade, que o
capitalismo os continua matando e enterrando, a cada dia, a cada minuto.
REFERÊNCIAS
CALDAS,
Camilo Onoda. Perspectivas para o direito
e a cidadania. O pensamento jurídico de Cerroni e o marxismo. São Paulo:
Alfa Omega, 2006.
CARVALHO,
Albênzio Dias de. O revisionismo albanês
de Amazonas e sua crítica “demolidora” do maoísmo. Rio de Janeiro:
Difusora, 2006.
LENINE,
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Karl Marx. In: _____. Obras escolhidas.
Tomo 2. Lisboa: Ed. Avante!, 1984b.
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O oportunismo e a falência da II Internacional. In: _____. Obras escolhidas. Tomo 2. Lisboa: Ed. Avante!, 1984c.
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Chinesa: a grande batalha ideológica que o Brasil não viu. Belo Horizonte:
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In: Núcleo de Estudos do Marxismo-Leninismo-Maoismo. A Carta Chinesa: a grande batalha ideológica que o Brasil não viu. Belo
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SCHOPENHAUER,
Arthur. Como vencer um debate sem
precisar ter razão: em 38 estratagemas (Dialética Erística). Tradução Daniela
Caldas e Olavo de Carvalho. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997.
STALIN,
J. V.. Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico (1938). In: Arquivo Marxista na Internet. Disponível
em: <http://marxists.org/portugues/stalin/1938/09/mat-dia-hist.htm>.
Acesso em 16 abr. 2012.
TSETUNG,
Mao. Sobre a prática. In: O pensamento de
Mao Tsé-Tung. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979a.
______.
Abandonai as ilusões e preparai-vos para a luta. In: _____. Obras Escolhidas.
Vol. IV. São Paulo: Alfa Omega, 1979b.
______. Sobre o tratamento correto das contradições no seio do povo. In:
______. Seis textos filosóficos do Presidente Mao Tsetung. São Paulo: Edições
Seara Vermelha, 1999.
[1] Arthur Schopenhauer (1997), com sua
dialética erística, apresenta 38 estratagemas retóricos, partindo da ideia de
que o foco de cada parte num debate deve ser ganhar a discussão, independentemente do significado das ideias
defendidas e de serem verdadeiras ou não. Alguns estratagemas servem
perfeitamente aos propósitos deste artigo: uso intencional de premissas falsas
– lançar ideias baseadas em premissas falsas para que o adversário, discutindo
as ideias, silencie sobre as premissas, admitindo-lhes tacitamente; manipulação
semântica: utilização de termos que já tragam em si um significado prejudicial
ao argumento do adversário; alternativa forçada – oferecer duas possibilidades
para que o adversário só possa escolher entre uma ou outra, abrindo mão de seu
argumento; falsa proclamação de vitória – tratar como prova o que não é prova,
e “forçar a barra” para proclamar vitória num momento em que o adversário ou a
plateia possam aceitar isso.
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