terça-feira, 21 de agosto de 2012

Prefácio de Joan Robinson (1970)


Prefácio ao livro The chinese road to socialism de Wheelwright e Bruce McFarlane. Tradução amadora.


Toda luta política é uma luta por poder. Existem três marcos na rota para a revolução socialista. O primeiro foi a Comuna de Paris. Ela falhou, mas através dela o proletariado acumulou valiosa experiência. A Revolução de Outubro foi a primeira revolução proletária vitoriosa. A Revolução Cultural é o primeiro caso de uma revolução acontecer sob uma ditadura do proletariado já constituída. Por que foi necessário recorrer a outra revolução depois do poder já ter sido conquistado, e por que o Partido Comunista Chinês e o proletariado chinês iniciou tal revolução? A razão encontra-se na lei objetiva da luta de classes. A classe inimiga não irá aceitar seu destino. Depois de ter sido desapropriada, a burguesia luta por sua restauração.
A revolução burguesa deixou a propriedade intacta. A revolução proletária toma a propriedade. A classe proprietária busca a restauração. Muitas vezes na história uma revolução tem sido sucedida por uma restauração. Na União Soviética, a contra-revolução foi derrotada, a propriedade privada foi transferida para o Estado, mas ela falhou em fazer uma Revolução Cultural. A ideologia burguesa não foi removida e o poder proletário foi corrompido por ela. Um tipo de restauração capitalista foi feita por Khrushchev em 1956.

A triste lição do revisionismo soviético nos dá um alerta que expropriar a propriedade não é suficiente/ a revolução deve continuar na superestrutura do sistema econômico. Na China, também, depois da vitória da revolução de 1949, a luta de classes persiste e forças reacionárias buscam por restauração.

O senso histórico sempre foi forte na China, desde a antiguidade. Agora o Presidente Mao e seus apoiadores olham para eles mesmos em sentido histórico. Eles tem passado por um período para uma nova fase do desenvolvimento histórico. A União Soviética provou que uma revolução pode transformar a base econômica da sociedade e que a planificação pode transformar um país atrasado em uma grande potência industrial e militar. Isto também provou, como Mao apontou, que transformar a base não é suficiente para criar o socialismo; é necessário continuar a revolução na superestrutura. A Revolução Cultural recebeu esse nome a partir de um debate sobre cultura no sentido estrito do termo – que tipo de literatura, arte e teatro é apropriado para a continuação da luta de classes? Transfomou-se então  numa revolucionarização da cultura em todos os aspectos da vida, educação e relações interpessoais. A superestrutura reage sobre a infraestrutura. Como fazer com que relações democráticas entre especialistas e simples trabalhadores impactem na produção industrial? Como fazer para que companhas contra o lucro privado afetem a comercialização do excedente agrícola?

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O Partido Comunista Chinês tem uma maneiro muito diferente da União Soviética e seus discípulos. Em vez de justificar os mais grosseiros erros, os chineses aprendem a realizar auto-crítica para não cometer os mesmos erros no futuro; eles não se importam nem mesmo estrangeiros conhecerem seus erros. Nossos autores ainda que simpatizantes não veem necessidade de encobrir os erros da política, nem falsificar a realidade. Por outro lado, eles não tem necessidade de dedicar páginas à adulação. Uma fria análise do que viram já é suficiente.

[...]

Observadores hostis gostam de desacreditar muitos relatos de visitantes que, segundo eles, devem ser mantidos de lado. Existe uma grande relutância no Ocidente, e até mesmo na URSS, de acreditar o que simpatizantes maoístas relatam de suas viagens. Seria possível realizar um processo de industrialização sem oprimir de certa forma o campesinato? Como pode existir disciplina na fábrica onde trabalhadores são livre para criticar os dirigentes? Como pode haver socialismo com uma democracia total de base? Como pode um país atrasado se desenvolver, pelos seus próprios esforços, sem benefícios estrangeiros?
Porém há uma quantidade de fatos que ninguém pode negar. Frequentes discursos sobre colapsos, fome e caos se comprovaram falsos. A China prestou suas contas e hoje dá apoio a outros países enquanto não recebe nenhum. O período ruim, 1959-61, passou, sem inflação e sua moeda é hoje uma das mais instáveis do mundo. O comércio é balanceado, e e gradualmente reverte o quadro de 'subdesenvolvimento', cujo padrão é a importação de manufaturados e exportação de produtos brutos.

Se a política chinesa foi tão absurda como dizem, como pode essas coisas acontecerem? Certamente as testemunhas oculares dos detalhes da performance econômica chinesa são mais plausíveis que os zombadores que o Ocidente e a URSS divulgam.

Nossos autores entendem economia ortodoxa. Eles a entendem muito bem para ver além dela. Por dois séculos nós temos seguido a doutrina liberal de Adam Smith onde os indivíduos perseguem seus interesses particulares e daí provém a prosperidade nacional. A China, seguindo o Pensamento Mao Tse-Tung, vem provendo o contrário. Mas isso não significa que uma reversão tão profunda possa ser alcançada facilmente: 'A atual grande revolução cultural é apenas a primeira; inevitavelmente haverá muitas outras no futuro. Nos últimos anos o Camarada Mao Tse-Tung tem dito várias vezes que a questão de quem vai vencer numa revolução não pode ser decidida a não ser por um longo período histórico."

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